Segundo Álvaro de Moya, a primeira HQ de terror
publicada no Brasil foi um episódio da série "Dr. Oculto", assinada
por Leger e Reuths, que circulou em 1937 na revista Mirim. Leger e
Reuths, vale lembrar, eram os pseudônimos de Siegel e Schuster, os
criadores do Superman, origem e modelo de todos os super-heróis.
Quase 70 anos depois, os quadrinhos de terror estão ausentes das
bancas, mas o super-herói do momento, Spawn, é um morto-vivo que fez
um pacto com o demônio e saiu da tumba para se vingar, bem ao estilo
dos enredos clássicos de terror. Nada mais natural: os dois gêneros,
terror e super-heróis, beberam na mesma fonte: os pulps policiais
dos anos 30 e 40, com seus relatos fantásticos.

A primeira revista brasileira de quadrinhos de horror chamava-se
O Terror Negro e surgiu em 1949. Curiosamente, ela foi primeiro a
revista de um super-herói: o Black Terror, de Jerry Robinson e Mort
Neskin. Foi o fracasso de vendas deste herói, palidamente calcado em
Batman, que levou a Editora La Selva a aproveitar o título já
registrado para publicar um pacote de histórias de terror
norte-americanas. Foi um grande sucesso, com alguns números se
esgotando completamente.
Lembra-se do pequenino Mr. Nickles? A história de Shimamoto não
contava, mas nos anos cinquenta revistas como a Sinister Tales não
eram mais encontradas nas bancas norte-americanas. O motivo já foi
contado várias vezes, mas vou resumí-lo: um psiquiatra
norte-americano de origem alemã, de nome Friedrich Wertham, escreveu
um livro chamado A Sedução dos Inocentes, no qual atacava as
histórias-em-quadrinhos, pretendendo que elas fossem uma forma de
corrupção juvenil. Wertham chegou a colher depoimentos de
adolescentes criminosos que, supostamente, tinham se inspirado na
leitura de quadrinhos para realizar seus crimes. O livro causou
comoção nacional (nos EUA) e desencadeou uma série de fatos que
resultaram na criação do Comics Code Authority, que baniu de
circulação as revistas de terror e violência. No Brasil isso apenas
significou escassez de material novo para os editores, já que eles
publicavam maciçamente o terror importado.
Entram então em cena, no Brasil, nomes que você talvez nunca
tenha ouvido, mas que começaram a mudar a história dos quadrinhos
brasileiros: José Sidekerskis, Victor Chiodi, Heli Otávio de
Lacerda, Cláudio de Souza, Arthur de Oliveira e Miguel Falcone
Penteado. Estes empresários, com grande visão, desencadearam o
processo de formação do primeiro movimento consciente de defesa da
HQ nacional, com a criação da Editora Continental (logo rebatizada
como Editora Outubro). Esta editora somente publicava quadrinhos de
autores nacionais. E não apenas terror, como muita gente pensa, mas
quadrinhos de todos os gêneros, do faroeste ao infantil, do terror
ao romance para as adolescentes. Mas foi sem sombra de dúvida, nas
revistas de terror da Outubro, que se consagraram grandes nomes das
HQ, como Flávio Colin, Júlio Shimamoto, Aylton Thomaz, Inácio Justo,
Getúlio Delphim, Gedeone Malagola, Sérgio Lima, Juarez Odilon, Nico
Rosso, Lyrio Aragão, Luís Saidenberg, Gutemberg Monteiro e tantos
outros, sob a direção artística de Jayme Cortez.